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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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bem ondeado, mas tenue e fraco, e, apezar de todas as aguas e pomadas, necessitando já risca mais elevada, quasi ao meio da testa clara.

— É infernal! Aos trinta annos estou calvo...

E todavia não se despegava do espelho, n’uma contemplação agradada, recordando mesmo a recommendação da tia Louredo, em Lisboa: — «Oh sobrinho! o menino, assim galante e esperto, não se enterre na provincia! Lisboa está sem rapazes. Precisamos cá um bom Ramires!» — Não! não se enterraria na provincia, immovel sob a hera e a poeira melancolica das cousas immoveis, como a sua Torre!... Mas vida elegante em Lisboa, entre a sua parentella historica, como a aguentaria com o conto e oitocentos mil reis de renda que lhe restava, pagas as dividas do papá? E depois realmente vida em Lisboa só a desejava com uma posição politica, — cadeira em S. Bento, influencia intellectual no seu Partido, lentas e seguras avançadas para o Poder. E essa, tão docemente sonhada em Coimbra, nas faceis cavaqueiras do Hotel Mondego, — muito remota a entrevia! Quasi inconquistavel, para além de um muro alto e aspero, sem porta e sem fenda!... Deputado — como? Agora, com o horrendo S. Fulgencio e os Historicos no Ministerio durante tres gordos annos, não voltariam Eleições Geraes. E mesmo n’alguma Eleição Supplementar que possibilidade lograria