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Página:A illustre Casa de Ramires (1900).djvu/452

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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

folheando velhos romances inglezes na estantesinha envidraçada, ou simplesmente da varanda contemplando a querida quinta estendida até aos outeiros de Valverde, a verde quinta, tão misturada á sua vida que cada arvore lhe susurrava, cada recanto de verdura era como um recanto do seu pensamento.

Gonçalo subiu — bateu á porta cerrada com o antigo aviso: — «Licença para o mano!» Ella correu da varanda, onde regava nos seus antigos vasos vidrados plantas sempre renovadas e cuidadas pela Rosa com carinho. E desabafando logo do pensamento que a enchia:

— Oh Gonçalo! mas que felicidade nós virmos á Torre, justamente hoje, que te succedeu cousa tamanha!

— É verdade, Gracinha, grande sorte! E não me admirei nada de te vêr... Era como se ainda vivesses na Torre e te encontrasse no corredor... Quem estranhei foi o Barrôlo! E no primeiro momento depois de desmontar, pensava assim, vagamente: «mas que diabo faz aqui o Barrôlo? como diabo se acha aqui o Barrôlo?...» Curioso, hein? Foi talvez que, depois da desordem, me senti remoçado, com um sangue novo, e me julguei no tempo em que desejavamos uma guerra em Portugal, e nós cercados na Torre, sob o nosso pendão, o nosso terçoatirando bombardas aos hespanhoes...