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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Em casa do Thomaz Pedra, a avó Anna Pedra, uma velha entrevada, muito velha e tremula, rompeu a choramigar por o seu Thomaz andar para o Olival quando o Fidalgo o visitava. «Que aquillo era como visita de santo!»

— Ora essa, tia Pedra! Peccador, grande peccador!

Dobrada na cadeirinha baixa, com as farripas brancas descendo do lenço, pela face toda chupada de gelhas e pelluda, a tia Anna bateu no joelho agudo:

— Não senhor! não senhor! que quem mostrou aquella caridade pelo filho do Casco, merece estar em altar!

O Fidalgo ria, beijocava pequenadas encardidas, apertava mãos asperas e rugosas como raizes, accendia o cigarro á braza das lareiras, conversando, com intimidade, das molestias e dos derriços. Depois, no calor e pó da estrada, pensava: — «É curioso! parece haver amisade, n’esta gente!»

Ás quatro horas, derreado, decidiu cessar o giro, recolher á Torre pela estrada mais fresca da Bica Santa. E passára o logarejo do Cerdal, quando na volta aguda do Caminho, rente ao souto de azinheiros, quasi esbarrou com o Dr. Julio, tambem a cavallo, tambem no seu giro, de quinzena d’alpaca, alagado em suor, debaixo d’um guarda-sol de sêda verde. Ambos detiveram as egoas, se saudaram amavelmente.