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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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espanto. A Torre illuminára! Das suas fundas frestas, atravez das negras rexas de ferro, sahia um clarão; e muito alta, sobre as velhas ameias, refulgia uma serena corôa de lumes! Era uma surpresa, preparada, com delicioso mysterio, pelo Bento, pela Rosa, pelos moços da quinta, — que agora, todos, no escuro, por baixo da varanda, contemplavam a sua obra, allumiando o ceu sereno. Gonçalo percebeu os passos abafados, o pigarro da Rosa. Gritou alegremente da borda da varanda:

— Oh, Bento! Oh, Rosa!... Está ahi alguem?

Um risinho esfusiou. A jaqueta branca do Bento surdio da sombra.

— O Snr. Doutor queria alguma cousa?

— Não, homem! Queria agradecer... Foram vocês, hein? Está linda a illuminacão! Mas linda. Obrigado, Bento. Obrigado, Rosa! Obrigado, rapazes! De longe deve fazer um effeito soberbo.

Mas o Bento ainda se não contentava com aquellas lamparinas frouxas. A Torre, para sobresahir, necessitava chammas fortes de gaz. O Snr. Doutor nem imaginava a altura, depois em cima, a immensidão do eirado.

Então, de repente, Gonçalo sentiu um desejo de subir a esse immenso eirado da Torre. Não entrára na Torre desde estudante — e sempre ella lhe desagradára por dentro, tão escura, de tão duro granito,