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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

O Gouveia, sem rancor, logo reconciliado (porque admirava carinhosamente o Fidalgo da Torre), deu um puxão forte á sobrecasaca e apenas observou «que o Gonçalinho era uma flôr, mas picava...» Depois, aproveitando a emoção submissa de Gonçalo, recomeçou a glorificação do Cavalleiro, mais sobria. Reconhecia certas fraquezas. Sim, com effeito, aquelle modo impertigado... Mas que coração! — E o Gonçalinho devia considerar...

O Fidalgo, de novo revoltado, recuou, espalmando as mãos:

— Escute você, oh João Gouveia! Por que é que você lá em cima, á ceia, não comeu a salada de pepino? Estava divina, até o Videirinha a appeteceu! Eu repeti, acabei a travessa... Por que foi? Por que você tem horror physiologico, horror visceral ao pepino. A sua natureza e o pepino são incompativeis. Não ha raciocinios, não ha subtilezas, que o persuadam a admittir lá dentro o pepino. Você não duvida que elle seja excellente, desde que tanta gente de bem o adora: mas você não póde... Pois eu estou para o Cavalleiro como você para o pepino. Não posso! Não ha molhos, nem razões, que m’o disfarcem. Para mim é ascoroso. Não vae! Vomito!... E agora ouça...

Então Titó, que bocejava, interveio, já farto:

— Bem! Parece-me que apanhamos a nossa dóse