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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

homem — o falso homem d’olho langoroso! Por que entre elles existia um d’esses fundos aggravos que outr’ora, no tempo dos Tructesindos, armavam um contra o outro, em dura arrancada de lanças, dois bandos senhoriaes... — E pela estrada, com a lua no alto dos oiteiros de Valverde, em quanto no violão do Videirinha tremia o choro lento do fado do Vimioso, Gonçalo Mendes recordava, aos pedaços, aquella historia que tanto enchera a sua alma desoccupada. Ramires e Cavalleiros eram familias vizinhas, uma com a velha torre em Santa Ireneia, mais velha que o Reino — a outra com quinta bem tratada e rendosa em Corinde. E quando elle, rapaz de dezoito annos, enfiava enfastiadamente os preparatorios do Lyceu, André Cavalleiro, então estudante do Terceiro-Anno, já o tratava como um amigo serio. Durante as férias, como a mãe lhe dera um cavallo, apparecia todas as tardes na Torre; e muitas vezes, sob os arvoredos da quinta ou passeando pelos arredores de Bravaes e Valverde, lhe confiava, como a um espirito maduro, as suas ambições politicas, as suas idéas de vida que desejava grave e toda votada ao Estado. Gracinha Ramires desabrochava na flôr dos seus dezeseis annos; e mesmo em Oliveira lhe chamavam a «flôr da Torre». Ainda então vivia a governante ingleza de Gracinha, a boa Miss Rhodes — que, como todos na Torre, admirava com enthusiasmo André