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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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(por que o procurador, o bom Rebello, tambem Deus o chamára), revolvendo papeis, apurando o estado da casa — reduzida aos dois contos e trezentos mil reis que rendiam os foros de Craquêde, a herdade de Praga, e as duas quintas historicas, Treixedo e Santa Ireneia. Quando regressou a Coimbra deixou Gracinha em Oliveira, em casa de uma prima, D. Arminda Nunes Viegas, senhora muito abastada, muito bondosa, que habitava no Terreiro da Louça um immenso casarão cheio de retratos d’avoengos e de arvores de costado, onde ella, vestida de velludo preto, pousada n’um camapé de damasco, entre aias que fiavam, perpetuamente relia os seus Livros de Cavallaria, o Amadis, Leandro o Bello, Tristão e Brancaflôr, as Chronicas do Imperador Clarimundo... Foi ahi que José Barrôlo (senhor d’uma das mais ricas casas d’Amarante) encontrou Gracinha Ramires, e a amou com uma paixão profunda, quasi religiosa — estranha n’aquelle moço indolente, gorducho, de bochechas coradas como uma maçã, e tão escasso d’espirito que os amigos lhe chamavam «o José Bacôco». O bom Barrolo residira sempre em Amarante com a mãe, não conhecia o trahido romance da «Flôr da Torre» — que nunca se espalhára para além dos cerrados arvoredos da quinta. E, sob o enternecido e romanesco patrocinio de D. Arminda, noivado e casamento docemente se apressaram, em tres mezes,