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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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O velho Tructesindo bateu as palmas para chamar os sergentes:

— Bem, bem, a cear, pois! Á ceia, Frei Munio!... E vós, Mendo Paes, deixai receios.

— Se deixo! Não vos póde vir damno que me anceie de cem lanças, de duzentas, que vos surjam a caminho.

E, emquanto o monge enrolava o seu pergaminho, se acercava da mesa — Mendo Paes ajuntou com tristeza, desafivelando vagarosamente o cinturão da espada:

— Só um cuidado me pesa. E é que, n’esta jornada, senhor meu sogro, ides ficar de mal com o Reino e com o Rei.

— Filho e amigo! De mal ficarei com o Reino e com o Rei, mas de bem com a honra e commigo!

Este grito de fidelidade, tão altivo, não resoava no poemeto do tio Duarte. E quando o achou, com inesperada inspiração, o Fidalgo da Torre, atirando a penna, esfregou as mãos, exclamou, enlevado:

— Caramba! Aqui ha talento!

Rematou logo o Capitulo. Estava esfalfado, á banca do trabalho desde as nove horas, a reviver intensamente, e em jejum, as energias magnificas dos seus fortes avós! Numerou as tiras — fechou na gaveta á chave o volume do Bardo. Depois á janella, com o collete desabotoado, ainda lançou o brado genial