unico que ainda não revistára. A porta estava fechada por dentro, porém a péquena cravelha fraca resistencia oppoz á pressão que na porta exerceu o Herodes.
Franqueando assim a passagem, parou no limiar.
Moveu-se, ao ruido que elle fez, um vulto que parecia ajoelhado n’um canto escuro do quarto.
— És tu, Linda? Estás ahi? — perguntou o Cancella, affirmando-se n’aquelle vulto, sem ainda o reconhecer,
— Meu pae... respondeu com voz fraca.
— Que fazes tu aqui mettida e fechada n’este quarto, filha? no quarto mais escuro e mais abafado de toda a casa? Chega-te cá, rapariga, quero-te abraçar e beijar... Então que é isso?... Tens hoje tão pouca pressa de abraçar teu pae?... D’antes, até ao caminho me vinhas esperar... Vem cá, minha filha, vem cá... Se soubesses como me consola...
E estendia os braços para a filha, que lhe viera emfim ao encontro. Quando, porém, a viu mais perto da luz, calou-se subitamente e principiou a examinal-a[1] com inquieta anciedade. Depois, como se lhe não bastasse a luz d’aquelle recinto para desvanecer não sei que suspeitas assustadoras que o devoravam, trouxe, silencioso ainda, a filha para o corredor, e continuou ahi a fital-a com os olhos eloquentes de paixão e de espanto, bradando emfim, com voz consternada:
— Que é isto!... Que tens tu, filha?... Estás doente? Estas não são as tuas feições... Os olhos pisados... as faces abatidas... sem côr... sem risos... sem saude!... Linda, tu que tens? Dize: choraste, filha? Estás doente? Fala! Anda, fala!... por piedade!... por amor de Deus, Linda, fala!
A rapariga, em vez de responder, desatou a chorar.
— Meu Deus! Isto que é, meu Deus? — exclamava, mais assustado, o pae. — Choras ainda mais?
- ↑ "examimal-a" no original, erro tipográfico.