Guardados alguns momentos de silencio, continuou, com amargo sarcasmo:
— Por que te não fazes politico? Por que não vaes tambem para a taberna do Canada dizer tolices sobre a governança do paiz? Talvez levasses comtigo alguns tôlos, e tinhas n’isso uma recommendação poderosa. Olha para aquelle basbaque do morgado das Perdizes... ahi tens um influente... Imita-o... Mas dize: o que tencionas fazer?
— Ficar — respondeu Augusto, com firmeza.
O herbanario fixou-o com um olhar penetrante.
— Ainda?... Mas... não te vae ser suave agora a vida, rapaz. Para se viver não basta uma... uma loucura. Repara bem. Se quizeres... O Manoel é leviano, mas creio que ainda não perverso; eu lhe escreverei... talvez que em Lisboa...
— Não lhe escreva. Sabe que não partiria para Lisboa...
— Mas... repara!... Estás muito novo, Augusto... Tens um longo futuro deante de ti. E, ficando, o que te espera?...
— A morte que fôsse, a morte de miseria e de fome, ficava. Mas resta-me ainda o trabalho. Tenho coragem para acceital-o.
O herbanario baixou a cabeça, pensativo.
Soaram n’isto á porta da sala duas pancadas lentas.
O herbanario fez um gesto de enfado.
— Não abras sem eu sair, — disse elle a Augusto, que se erguera — não estou de animo para aturar importunos.
E passou para uma sala contigua.
Augusto foi abrir ao novo visitante.
Achou-se na presença do brazileiro Seabra.
A grave personagem entrou pausada e sisuda, como homem que sabe fazer valer a honra que dispensa, visitando um rapaz sem dinheiro.
Augusto offereceu-lhe cadeira Augusto offereceu-lhe cadeira para se sentar,