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Áquella hora devia estar a proceder-se na assembléa ao apuramento de votos.

Esta ideia lançava o conselheiro em um d’aquelles estados febris, que só pode conceber quem já alguma vez soube o que é ter a sorte dependente de uma votação, e aguardar a cada momento a noticia do resultado d’ella.

Devora-nos uma impaciencia insupportavel; tudo o que ouvimos nos afflige; as conversas sobre assumptos indifferentes, irritam-nos; se nos tentam alentar com esperanças, revoltamo-nos contra ellas; se procuram preparar-nos para um desengano, prevenindo-o, repellimos com energia a ideia d’elle. O silencio não nos é mais agradavel; as apprehensões ganham corpo no meio d’elle; falam os presentimentos do mal. Tentamos sorrir, gela-se-nos o sorriso nos labios. A quietação é-nos tão intoleravel como o movimento. Anciamos sair da incerteza, e de cada individuo que chega, trememos de saber a nova fatal. Vae mais longe o effeito moral d’este estado do espirito; chegamos quasi a querer mal a todos quantos estão assistindo n’aquelle momento á decisão lenta da sorte. O nosso egoismo, exacerbado em taes momentos, irrita-se com a ideia de que os nossos amigos tenham coração para assistir áquillo; e comtudo não lhes perdoariamos se se retirassem. Sensações d’aquellas exgotam mais vitalidade, em cada instante, do que annos de vida isenta d’ellas.

O conselheiro luctava comsigo mesmo para dominar-se; procurava preparar-se para receber o golpe, que bem podia dizer infallivel. Que esperava elle! Não lhe era quasi possivel contar, um por um, os votos de que dispunha? Não ficava, por mais alto que elevasse o cálculo, uma grande maioria a esmagal-o? Tudo isto era assim, mas o convencimento prévio recusava estabelecer-se-lhe no espirito, para lhe dar a tranquillidade da certeza.

É um vivedouro sentimento o da esperança! Não