Saltar para o conteúdo

Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/538

Wikisource, a biblioteca livre
264

os labios do que obrigal-a de novo a passar por elles.

— Tens razão, menino. E que precisão tenho eu de saber uma coisa que não é verdadeira? Mas na verdade! Suspeitaram de Augusto! Ah! Henrique, está-me a parecer que tambem tu tens esse peccado a pesar-te na consciencia. Ora anda lá.

— Não, tia. Ha muito que lhe faço justiça. Ao principio não digo que não. Mas durou pouco tempo e já estava arrependido. Augusto convenceu-me pela maneira com que me falou, convenceu-me sem provas: e até se, em expiação, me não puz em campo a auxilial-o a justificar-se, é porque elle exigiu que me abstivesse d’isso, e depois, o meu desastre... quero dizer — emendou, olhando para Christina — a felicidade que me procurou sob a fórma de doença...

Christina pagou-lhe com um sorriso o galanteio.

O conselheiro, que ficára pensativo depois das primeiras reflexões que lhe ouvimos fazer, disse, suspirando:

— Estou sentindo verdadeiros remorsos pelo mal que por certo causei áquelle rapaz com as minhas suspeitas. Mas que havia eu de fazer? As apparencias eram-lhe contrarias!... E depois, n’esta vida de politica, apprende-se tanto e tão depressa a duvidar! É sorte minha! Homens, a quem eu estimava devéras, fôram exactamente os que mais fiz padecer! Senão, vejam: o herbanario, meu companheiro de infancia, e que sempre me teve amizade, apesar das apparencias rudes de que a revestia, dispuzeram-se as coisas de modo que o privei da casa em que nasceu e talvez lhe apressasse com isso a morte... E elle, coitado, vingou-se nobremente; mas vingou-se, porque nunca mais me sairá da ideia aquella scena da igreja. Augusto, um rapaz que conheci pequeno, e já então de viva intelligencia e de sentimentos nobres... pois tudo se conspirou para o perder, e não só o privei do