Marianna, e tu, Eduardo; ide ambos dizer-lhes que está aqui o... o primo Henrique de Souzellas.
Marianna e o irmão sairam a correr.
― Vae conhecer duas boas almas ― disse Magdalena, voltando-se para Henrique ― minha tia é uma santa senhora, cujo peor defeito é suppôr-se victima dos criados; e Christina... Christina é um anjo.
V
Henrique de Souzellas sentia-se cada vez mais penetrado da sympathia, que logo á primeira vista, aquella mulher lhe despertára.
Havia na morgadinha um mixto de candura e de ironia, certa delicada reserva fluctuando, como uma sombra diaphana, na conversa familiar, a que tão espontaneamente se dava; um visivel conhecimento dos usos e etiquetas sociaes, e ao mesmo tempo uma coragem para cortar por elles, como quem se sentia sobranceira a toda a ousadia, inaccessivel ás suspeitas dos mais atrevidos: havia tantos enygmas n’aquella sympathica indole feminina, que poucos seriam impassiveis deante d’ella.
A pensar n’isto se ficou Henrique de Souzellas, calado, immovel, absorto, seguindo com os olhos os movimentos de Magdalena, que, sem o menor constrangimento, proseguia nas suas occupações domesticas.
Ouviram-se finalmente passos e vozes de differentes timbres na sala immediata.
― Ellas ahi veem ― disse a morgadinha.
De feito, precedidas por Marianna e Eduardo, entraram na sala D. Victoria e Christina.
A mãe vinha dizendo:
― É o que eu digo... Não que vocês não que-