Estava, porém, muito mais magro, mais pálido, mais concentrado e mais triste.
Fugira-lhe das faces a cândida frescura da sua mocidade, fugira-lhe dos olhos aquele puro e ardente brilho, que era como o reflexo da sua apaixonada alma de inspirado asceta, fugira-lhe dos lábios a purpurina flor dos seus sorrisos virginais, e agora todo ele nada mais era do que a trêmula sombra do que dantes fora.
Sombra lenta e misteriosa, que em silêncio se arrastava pela vida, ofegante e curvada, como se sobre ela andasse a pairar eternamente o anjo da melancolia, roçando-lhe os cabelos com as suas asas úmidas de pranto.
Impressionava vê-lo, à hora do crepúsculo, errar no jardim entre as lousas mortuárias, com a fronte pendida para a terra, como se estivesse a procurar o derradeiro abrigo no seio dessa mãe melhor que as outras, que nunca enjeita os filhos.
Impressionava aquele negro vulto, arrastando a túnica pela areia dos caminhos, para levar, aos que sofriam menos do que ele, a misericórdia da sua consolação e do seu amor.
Uma noite, já nove horas tinham dado, e Ângelo não aparecia em casa.
A velha Salomé, aflita, ia de vez em quando à janela e voltava desapontada, agitando os ombros e sacudindo a cabeça.
— Que digo eu?. . . exclamou ela sozinha,