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Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/219

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depois recolheu-se ao quarto, colocando o cofre sobre a mesa.

Despejou-o. O conteúdo elevava-se à quantia de cinqüenta mil francos em várias espécies. O pároco separou logo algumas placas de ouro e prata, para nesse mesmo dia principiar a distribuição de socorros.

Oh! ele, sabia melhor que ninguém aonde aquele dinheiro deveria encontrar o seu destino!. . . Quantas vezes, pensando em certas desgraçadas famílias de jornaleiros, reduzidas à fome pela poste, não chorou amargamente por nada mais de seu ter para lhes dar?... Quantas vezes não se privou do mais que restritamente necessário, para que não faltasse o leite a um desgraçadinho a quem já faltava mãe?. . . Quantas vezes não levou a sua esfarrapada batina à casa dos ricos do lugar, e não lhes estendeu a mão, esmolando para os que choravam de penúria e de frio?. . . Quantas vezes não se privou dos lençóis da cama, para cobrir com eles o corpo dos que gemiam na enxerga nua?. . .

Sim! Aquele dinheiro ia ser manancial de consolações!... Alzira, se durante a vida cometera muitos crimes, praticara na sua última hora uma ação boa lembrando-se dos desamparados da fortuna.

Mas Ângelo, ao repor as cédulas no fundo do cofre, notou que um longo fio de cabelo louro envolvia-se nos seus dedos.