A tarde sucumbia lentamente, enchendo a natureza com a sua triste alma lamentosa. As cigarras estridulavam nas sonolentos frondes dos arvoredos, como um contínuo gemido do crepúsculo que agonizava. O sol, cansado do seu esplendor, fugia ao longe, cambaleando por uma escadaria de púrpura real. Os lavradores recolhiam-se à casa, com a ferramenta ao ombro, e crianças brincavam no eirado ouvindo às Trindades.
Entretanto, na modesta sala de jantar do cura de Monteli, a velha Salomé, com o queixo apoiado à mão, o olhar perdido ao acaso, meneava a cabeça defronte do Dr. Cobalt, e parecia deveras desconsolada.
O médico tomava notas na sua carteira.
— Ele não se queixa de nada?... perguntou depois de uma pausa, a estorcer nos dedos o lábio inferior.
— Não, senhor doutor, não se queixa de nada!. . . E é isso o que eu estranho!. . .
— Não tem dores de cabeça?. . . Vertigens, achaques nervosos?. . . insistiu aquele.