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Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/46

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tempo que deixavam transluzir toda a virgindade daquela alma imaculada, súbitos clarões, Inteligentes, que denunciavam um espírito agudo e forte. Na suavidade das suas faces de moço, havia a sombra das duras penitências e das grandes vigílias místicas sobre as páginas do breviário, ou defronte do altar da Virgem Santíssima, mas havia também uma juvenil frescura de flor, dessas misteriosas e pálidas, que só à noite desabrocham e recendem. A sua boca imberbe era um conjunto fascinador de graça e de tristeza, seus lábios, um tanto cheios e sangüíneos, pareciam todavia talhados mais para os beijos de amor do que para o frouxo balbuciar das orações. Seus cabelos negros, crescidos à nazarena, como então usavam os religiosos de França, derramavam-se-lhe em fartos anéis sobre a brancura do pescoço e caíam-lhe em trêmulas madeixas de lado a lado do rosto.

Devia ter sido um rapaz muito forte, se não fora a enervadora clausura a que o condenara seu infeliz destino. Era de natural esbelto e airoso, tinha os dentes brancos e rijos, o queixo enérgico, o nariz feito de uma só linha, a fronte alta e severa.

As macerações dos jejuns e das ásperas disciplinas não conseguiram desfibrar-lhe de todo a sólida compleição com que a natureza o dotara. Apesar de tudo, era ainda, nos seus cândidos vinte anos, uma garbosa e gentil figura, que