que com a cabeça, e só por isso Paris o ouviu tão comovido.
E depois de uma pausa:— Sim, porque é preciso confessarmos uma cousa, meus idolatrados amigos: os parisienses de hoje dispõem de muito espírito e de muita enciclopédia, mas, em questão de sentimento e de sinceridade. . . são de uma pobreza franciscana.
— Não é tanto assim!. . . arriscou Artur.
— Nós, os parisienses de hoje, prosseguiu o médico, somos muito corteses, muito engraçados, sim senhor, mas. . . falsos e hipócritas como ninguém. . .
— Ora essa, doutor!. . . resmungou o conde com um trejeito de ressentimento.
Cobalt acrescentou, torcendo para baixo a linha fria da sua boca barbeada:
— Paris admirou em Ângelo o que Paris já não possui e só por isso considera extraordinário. Foi o assombro do homem desfibrado e gasto, produzido pelo homem ainda forte e perfeito. Admirou a fresca e delicada flor do sentimento, que ele supunha há muito tempo extinta; admirou esse estranho Ângelo como se admirasse uma raridade preciosa, uma das nossas armaduras dos tempos gauleses por exemplo.
— Não sou dessa opinião! opôs Gabriela, voltando o rosto.
Alzira, que não deixara o canto do seu divã, ia