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Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/97

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Alzira, a cortesã de mármore, sentia-se agora cativa de Ângelo, o casto; e seria capaz de trocar, por um beijo daqueles lábios imaculados, todos os seus tesouros, todas as suas jóias, todas as suas baixelas e todo o valimento do seu corpo escultural.

Era a primeira vez que amava, era a primeira vez que todo o seu ser desejava alguém; a primeira vez que ela se sentia pequena, humilde, miserável, defronte de um homem; a primeira vez que se supunha capaz de ajoelhar-se aos pés do seu amante e beijá-lo doida de amor, pedindo ternura como um cão pede carícias aos pés do dono, suplicando-lhe que a fizesse morrer sufocada nos seus braços, para que fosse dele a última vibração daquela frágil carne de mulher, e dele fosse o extremo beijo daquela pobre alma apaixonada.

E começou a soluçar.

Era mulher pela primeira vez: pela primeira vez chorava.

Daí a instantes, agitou-se o reposteiro de uma das portas, e um negro, de libré vermelha, entrou na antecâmara, com os braços cruzados e os olhos baixos.

— Que é, Amilcar?. . . perguntou Alzira sem tirar o lenço dos olhos.

— O Dr. Cobalt. .. respondeu o africano com a sua acentuação etíope.