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Página:A pata da Gazela.djvu/23

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Era uma botina, já o sabemos; mas que botina! Um primor de pellica e sêda, a concha mimosa de uma perola, a faceira irmã do lindo chapim de ouro da borralheira; em uma palavra a botina desabrochada em flôr, sob a inspiração de algum artista ignoto, de algum poeta de ceiró e torquez.

Não era, porém, a perfeição da obra, nem mesmo a excessiva delicadeza da fôrma, o que seduzia o nosso leão; eram sobretudo os debuxos suaves, as ondulações voluptuosas que tinham deixado na pellica os contornos do pesinho desconhecido. A botina fôra servida, e muitas vezes; embora estivesse ainda bem conservada, o desmaio de sua primitiva côr bronzeada e o esfrolamento da sola indicavam bastante uso.

Si fosse um calçado em folha, sahido da loja, não teria grande valor aos olhos do nosso leão, habituado não só a vêr, como a calçar, as obras primas de Milliès e Campàs. Talvez reparando muito naquella peça que tinha nas mãos, notasse maior elegancia no córte, e um apuro escrupuloso na execução; porém mais natural seria escapar-lhe essa minima circumstancia.

Mas a botina achada já não era um artigo