Página:A pata da Gazela.djvu/42

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da realidade, julgou o moço vêr, no momento de dobrar o carro pela rua Sete de Setembro, um talhe esbelto inclinar-se para a frente, e apparecer de relance um rosto alvo, donde escapou-se vivo e rapido olhar.

Leopoldo não tinha o intento de alcançar, nem mesmo seguir, o carro que fugia com velocidade; mas embalava-o a esperança de que um obstaculo qualquer, impedindo por instantes o livre transito, lhe permittisse outra vez contemplar a moça. Quando, porém, isso não succedesse, consolava-o a idéa de conhecer a direcção que tomaria a linda victoria:

— Si eu soubesse ao menos para que lado mora ella!... Esse ponto seria o meu horizonte, o meu céo. Me voltaria para ali quando adorasse á Deus, e quando conversasse com ella. Amaria as estrellas, as nuvens e até as borrascas dessa banda do firmamento; amaria as ruas, as calçadas e até a poeira desse arrabalde da cidade.

O mancebo vagou assim durante duas horas, percorrendo as ruas sem destino. Não era tanto a esperança de vêr a moça ou sómente o carro, como a necessidade de occupar seu espirito, o que o impellia nessa perseguição de uma sombra.