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Página:A pata da Gazela.djvu/46

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nhára a seus olhos algumas horas antes. Era a imagem diaphana de um sonho que tomara vulto gracioso de mulher.

— Não me lembro de seus traços, não posso lembrar-me!... murmurava no intimo. Eu a contemplei, como se contempla uma luz brilhante: ve-se a chamma, o esplendor; e nem se repara no espectro que a flamma envolve como uma roupagem. Ella é minha luz; não sei a côr e a fórma que tem, mas sei que scintilla, que me deslumbra; que innunda meu ser de uma aurora celeste. Não poderia descreve-la, como um poeta... Mas que importa? Pois que eu a sinto em mim; pois que eu a possuo em meu coração?

As palpebras do mancebo cerrarão-se coando apenas uma restea de olhar, que se embebia nas alvas espiras da fumaça do charuto. Percebia-se que naquelia nevoa se debuxava á sua imaginação a seductora imagem, deante da qual elle cahia em extases de uma doçura ineffavel.

— Quem sabe? Talvez não seja ella o que nos bailes se chama uma moça bonita; talvez não tenha as feições lindas e o talhe elegante. Mas eu a amo!... O amor é sol do coração; imprime-lhe o brilho e o matiz! Venus, a deosa da formo-