de seu espírito. Talvez ele visse mal; talvez a sombra, o estribo do carro, qualquer outro objeto o tivesse iludido. O aleijão só existia em
sua imaginação; fora um desvario dos sentidos. Com efeito, como supor que uma senhora pudesse andar graciosamente com semelhante pata de elefante?
Mas as botinas aí estavam sobre o balcão que não lhe deixavam a menor dúvida. O pé disforme existia; era aquele o seu molde, o seu corpo de delito, e por ele se podia ver quanto devia ser horrível a realidade. Agora Leopoldo podia apreciar os traços parciais que lhe tinham escapado pela manhã; esse pé era cheio de bossas como um tubérculo; não arremedava nem de longe o contorno dessa parte do corpo humano: era uma posta de carne, um cepo!
Junto dessa deformidade morta, inventada para cobrir a deformidade viva, havia outra obra que chamara a atenção do mancebo por sua singularidade. À primeira vista era um volume semelhante ao das botinas monstruosas embora de linhas regulares: parecia uma ligeira almofada preta sobre a qual se elevasse uma botina de senhora, muito elegante apesar de comprida. O