— Realmente, que elegância no andar! Eu seria capaz de apostar que esse andar era do pezinho, do meu adorado pezinho, se já não tivesse descoberto a dona do primor. Mas Laura não vem!... O criado me disse que ao meio-dia, e é quase uma hora! Terá mudado de resolução?... Não duvido, com aquele zelo feroz que tem por sua jóia, talvez não quisesse vir para não ser obrigada a mostrá-la. Um avaro não fecha com mais cuidado a burra, do que ela esconde seu tesouro. Que pecado! Subtrair ao mundo essa maravilha que Deus fez para ser admirada! Ah! eu desejava ser uma nação; assim como há demônios-legiões, por que não pode haver homens-povos? Se o fosse, daria um trono a essa mulher, somente para que ela instituísse o beija-pé. Como eu seria cortesão! Como eu a beijaria por minhas cem bocas de súdito!
O mancebo sobressaltou-se; vira uma sombra que assomava no espelho fronteiro. Era Laura. Que devia fazer? Correr à porta para ser visto pela moça ou deixar-se ficar na poltrona para melhor descobrir o pé adorado?
A atitude do leão revelava a hesitação de seu espírito;