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Uma hora seguramente se passara depois da saída do velho.

O relógio de uma das torres da cidade dava duas horas. Jorge conservou-se na mesma posição; imóvel com a cabeça apoiada sobre o braço, apenas se lhe percebia o abalo que produzia de vez em quando um soluço que o orgulho do homem reprimia, corno que para ocultar de si mesmo a sua fraqueza.

Depois nem isto; ficou inteiramente calmo, ergueu a cabeça e começou a passear pelo aposento: a dor tinha dado lugar à reflexão; e ele podia enfim lançar um olhar sobre o passado, e medir toda a profundeza do abismo em que ia precipitar-se.

Havia apenas duas horas que a felicidade lhe sorria com todas as suas cores brilhantes, que ele via o futuro através de um prisma fascinador; e poucos instantes tinham bastado para transformar tudo isto em uma miséria cheia de vergonha e de remorsos.

As oscilações do pêndulo, que na véspera respondiam alegremente às palpitações de seu coração, a bater com a esperança da ventura, ressoavam agora tristemente, como os dobres monótonos de uma campa, tocando pelos mortos.