quando ajoelhamos, não sei o que se passou em mim; parecia-me que tudo tinha desaparecido, tu, eu, o padre, minha mãe e que só havia ali duas mãos que se tocavam, e nas quais nós vivíamos!
O moço voltou o rosto para esconder uma lágrima.
— Vem cá, continuou a moça, deixa-me apertar a tua mão; quero ver se sinto outra vez o que senti. Ah! naquele momento parecia que nossas almas estavam tão unidas uma à outra que nada nos podia separar.
A moça tomou as mãos de Jorge e, descansando a cabeça sobre o recosto da conversadeira, cerrou os olhos e assim ficou algum tempo.
— Como agora!... continuou ela, sorrindo. Se fecho os olhos, vejo-te aí onde estás. Se escuto, ouço a tua voz. Se ponho a mão no coração, sinto-te!
Jorge ergueu-se; estava horrivelmente pálido. Caminhou pelo gabinete agitado, quase louco; a moça o seguia com os olhos; sentia o coração cerrado; mas não compreendia.
Por fim o moço chegou-se a um consolo sobre o qual havia uma garrafa de Chartreuse e dois pequenos copos de cristal. Sua noiva não percebeu o movimento rápido que ele fez, mas ficou extremamente admirada, vendo-o apresentar-lhe um dos cálices cheio de licor.
— Não gosto! disse a menina com gracioso enfado.
— Não queres então beber à minha saúde! Pois eu vou beber à tua.
Carolina ergueu-se vivamente e, tomando o cálice, bebeu todo o licor.
— Ao nosso amor!...
Jorge sorriu tristemente.
Dava uma hora da noite.