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encanto: o que tinha de suceder pela intrepidez e arrojo do destemido Lucena.

Essa versão popular ganhou mais força com os contos da maruja de um navio da carreira das Índias, que fazia escala em São Sebastião, vindo de Goa.

Referiam os marinheiros que um dia, sol claro, passara perto deles um navio aparelhado em escuna, cuja tripulação compunha-se toda de homens vestidos de compridas esclavinas brancas e marcadas com uma cruz negra no peito.

Como lhes observassem que talvez seriam penitentes, que iam de passagem, afirmavam seu dito, assegurando que os viram executar a manobra mandada pelo comandante, também vestido da mesma maneira.

Acrescentavam os marinheiros que muitos dias depois, em uma noite escura e de calmaria, tinham avistado ao largo o mesmo navio a boiar sem governo; mas todo resplandecente das luminárias dos círios acesos em capelas, e à volta de uma imagem.

A tripulação, vestida de esclavina, rezava o terço; e as ondas banzeiras gemendo na proa, acompanhavam o canto religioso, que se derramava pela imensidade dos mares.