Lá volvem os anos; e um dia vem à flor da terra o crânio que foi um poeta, ou um herói. Quem se importa com o sobejo dos vermes? É um pouco de cal e nada mais. Não tarda que a pata do homem ou do bruto passando por aí triture esse pó, a que animou outrora o sopro de Deus, mens divinior.
O autor do Diário do Lázaro foi um de tantos engenhos, atados à grilheta da miséria Poeta desconhecido, enquanto a sua alma inspirada se derramava em ânsias e prantos, o bestunto de muito zote agaloado lá se estava enfunando com os aplausos, furtados à virtude e saber.
Foi há muito tempo.
Era eu estudante na academia de Olinda. Tinha então dezenove anos, e sentia minhas quedas para a poesia, mas pela poesia plebéia, em prosa estirada, que isso de verso é cousa com que não se conformava o meu espírito. Vão lá medir o pensamento, rimar as paixões?
Muitas vezes sucedia-me nas vigílias do estudo apanhar o eu em flagrante delito de literatura, a idear romances e fantasiar dramas, enquanto lá o outro, o estudante de carne e osso, tressuava às voltas com o Corpus Juris Civilis.
Qual é a alma que nas primeiras expansões da