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esquina, era ocupado na frente por um repartimento espaçoso, vestido de alto a baixo, com panos de prateleiras carregadas de autos. Como não bastassem as paredes para acomodar toda a papelada, saíam do meio delas outros renques de prateleiras atravessados, formando uns cubículos estreitos, onde viam-se bancas apinhadas de rimas de processos. Por detrás dessas muralhas de autos arrumadas à guisa de torre, ouvia-se ranger a pena no papel, sinal infalível de que aí estava a rabiscar um escrevente do cartório.

Em uma espécie de nicho que havia para o fundo do aposento, contra a parede interior assentava uma longa banca de pau-santo, sobre seis pés torneados, cada qual mais grosso do que a viga da casa. Como as outras, servia esta mesa de sapata a um castelo de papelório; mas aqui as ameias eram feitas não só com muralhas de autos, mas com baterias de formidáveis bacamartes encadernados em camurça vermelha.

No meio da banca, dentro da cava aberta para acomodar o corpo, surgia um busto de homem, coberto de tabaco e poeira, com um chinó tão escandalosamente ruivo, que já frisava com o vermelho.

Óculos de asas de estanho, trepados no respeitável cavalete, envidraçavam