Página:Alfarrabios.djvu/374

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comprava. A ele não vendiam: tinham medo do dinheiro. E o coitado, antes queria vela para estar escrevendo, que o bocado para comer.

"Como são as cousas... Já entrava pela casa dentro, sem pinga de medo. Queria-lhe bem a ele; também ele me queria. Um dia perguntei como se chamava.
'Sabe que respondeu?
"— Não tenho nome!... Todos me chamam leproso.
"— Mas seu nome de batismo?
"— Era Francisco.
"Outra vez, por meus pecados, disse:
"— Por que passa todo o santo dia e mais a noite a escrever? Isto faz mal.
"Que olhos que me deitou! Ainda me alembro.
"— Estes livros são a minh'alma. O que tu vês em mim, Tonico, são os ossos que a lepra vai roendo.
"Cruzes! Tive um medo... das falas e dos olhos com que me olhou.
"E foi guardando os livros e desatou num pranto, num pranto... que. parecia um menino a chorar.
"Por esse tempo a gente de Olinda já andava alvoroçada com a estada do moço na casa velha.