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Página:Alfarrabios.djvu/381

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Foi-me preciso aceitar a crença do velho que era muito profunda, para ser abalada.

Procurei tirar dela argumentos que o convencessem de que não entrava nas minhas intenções cometer um sacrilégio.

O pescador refletiu.

— Mas se isso é verdade, por que razão ele me pediu que enterrasse a caixa?...

Tive uma inspiração.

— Quando ele morreu — respondi — ninguém se animaria a tocar no que lhe pertencia, com receio da moléstia. Os livros ficariam perdidos... Por isso pediu-lhe que os enterrasse. Mais tarde devia alguém achar...

— Há de ser isto!

Cavamos três palmos; creio que se abrisse o túmulo de um ente que me fosse caro, não sentiria as emoções por que passei naquele momento. O pescador, na ingenuidade de sua crença, tinha razão: era a alma de um homem, talvez de um poeta, que estava ali sepultada.

A chuva, que caíra a cântaros, amolecera o terreno, e facilitara o trabalho:. depois de um quarto de hora de escavação, o pescador tirou do chão uma caixa de folha, que teria dois palmos