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LEWIS CARROLL

— Está enganado! interveio a Lebre Telhuda. Foi no dia dois.

— Dia três! emendou o Rato do Campo.

— Escrevam as datas nas pedras! ordenou o Rei. As três testemunhas lançaram as três datas nas respectivas lousas, somaram-nas e reduziram-nas a tostões e vinténs.

— Tire o seu chapéu! gritou o Rei ao Chapeleiro, notando que êle tinha o chapéu na cabeça.

— Não posso, respondeu o Chapeleiro. Não posso tirar o meu chapéu porque o chapéu que tenho na cabeça não é meu.

— Tomem nota, senhores jurados, do que êle acaba de confessar, disse o Rei. Declarou que o chapéu não é dêle. Logo, é de outro. Logo, furtou-o.

Os jurados escreveram nas lousas o que lhes fôra ordenado, mas o Chapeleiro explicou que não furtara coisa nenhuma; apenas, na sua qualidade de Chapeleiro, havia trazido aquêle chapéu para vender.

A Rainha então ergueu o lornhão e examinou curiosamente o Chapeleiro, que incontinênti se fêz pálido e nervoso.

— Diga tudo quanto sabe, ordenou o Rei, e domine os seus nervos, se não mando decapitá-lo aqui mesmo.

Êste aviso nada tranqüilizou a testemunha, pelo contrário! Mais nervoso ainda ficou o Chapeleiro, sempre de olhos postos na terrível Rainha. Era tal a sua confusão, que em vez de comer o doce e beber o chá, deu uma dentada na xícara e bebeu o pão-de-ló.