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LEWIS CARROLL

— Pois muito bem! declarou Alice com energia. De qualquer forma não sairei daqui, porque êsse artigo não é legal. Foi você quem o inventou agorinha mesmo!

— É o artigo mais velho da constituição dos tribunais, declarou o Rei.

— Se é o mais velho, devia ser o artigo número um e não o número quarenta e dois.

O rei empalideceu e apressou-se em guardar o livro de notas. Estava evidentemente todo errado.

— Vejamos a sentença, disse êle voltando-se para os jurados.

— Há mais provas a examinar, interveio o Coelho Branco. Este papel ainda não foi lido ao tribunal.

— Que é que está escrito nêle? inquiriu a Rainha.

— Não sei. Ainda não o abri, disse o Coelho BranCo. Mas parece-me carta do acusado escrita para alguém.

— Qual o nome do destinatário? perguntou um jurado.

— Não tem enderêço nenhum, disse o Coelho. Nada há escrito do lado de fora — e, enquanto ia falando, desdobrava no ar o tal papel.

— Não é carta, declarou por fim. É uma poesia!

— Escrita pelo próprio punho do Valete de Copas? inquiriu um jurado.

— Não! respondeu o Coelho. A letra não é dêle. Deve ter imitado a caligrafia de alguém.

O tribunal estava boquiaberto de curiosidade.

— Perdão, Majestade! disse o Valete de Copas. Eu não posso ser acusado de ter escrito o que não assinei e o que não representa minha letra.