O Rei olhou-o de revés.
— Isto aqui tem um sentido oculto, disse. Pichocarra quer talvez dizer o seguinte: “Fui eu mesmo quem comeu os bolos da Rainha e quero ver quem descobre isso.” Notem os senhores jurados que as letras da palavra pichocarra acham-se tôdas repetidas na frase que eu acabo de apresentar.
Os jurados escreveram nas lousas as letras que o Rei grifara e viram que formava a palavra “bichocarra” e não “pichocarra.” Um dêles alegou isso em defesa do réu.
— Sim, concordou o Rei, mas o Valete é dos tais que trocam o B pelo P, vício de pronúncia que nêle notei há tempos. Assim sendo, a prova está provada e agora cumpre aos senhores jurados darem a sentença.
— Não! bradou a Rainha. Primeiro a execução, depois a sentença.
— Que asneira! exclamou Alice. Como é que a execução pode vir sem haver sentença?
— Faça o obséquio de calar essa bôca! disse a Rainha com ironia.
— Sou dona da minha bôca e da minha palavra! Calo ou falo quando me apraz, retrucou Alice colérica.
— Cortem-lhe a cabeça! berrou a Rainha no auge da cólera.
Ninguém se mexeu para executar a ordem.
— Vê? exclamou Alice com desdém. Ninguém liga a mínima importância às ordens de sua Majestade. A senhora não passa de uma simples Rainha de Baralho.
Mal disse aquilo, todo o baralho avançou para ela, numa fúria, fazendo Alice dar um grito de mêdo e abor-