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LEWIS CARROLL

tôda a timidez: “Meu caro senhor...” Mas o ilustre figurão sobressaltou-se e deixando cair as luvas e o leque sumiu-se aos pulos na escuridão.

Alice apanhou o leque e, como estivesse fazendo muito calor, pôs-se a passear pela sala, abanando-se todo o tempo. Enquanto isso, ia dizendo: “Meu Deus! Como tudo me parece estranho hoje! No entanto até ontem as coisas corriam como de costume. Quem sabe me trocaram por outra criatura durante a noite? Estudemos o caso. Será que sou a mesma Alice de ontem? Se não sou, então quem sou? Eis o grande problema.” E começou a recordar tôdas as meninas com quem se dava, para ver se a haviam trocado por algumas delas.

“Cléu! Serei a Cléu? Não. Não pode ser. A Cléu tem cabelos crespos e os meus são lisos. Também não posso ser a Zuleica, porque Zuleica é muito burrinha e eu não me sinto tal. Mas serei eu mesma, a Alice de ontem? Que confusão terrível! Vamos tirar a prova. Vamos ver se sei as coisas que sabia ontem. Quatro vêzes cinco, doze. Quatro vêzes seis, treze. Não, não! Com tabuada a coisa não vai. Experimentemos a geografia. São Paulo, capital Turquia. Londres, capital Venezuela. Está certo ou errado? Está errado. Logo, eu fui trocada pela burrinha da Zuleica!...”

E Alice recomeçou a chorar: “Sou a Zuleica! Terei agora de viver naquela casa feia onde ela mora, e tomar pitos da professôra por nunca saber as lições, ai, ai, ai...” e chorou mais um litro de lágrimas.

“E que sou a Zuleica, continuou, ficarei para sempre dentro dêste buraco. É inútil que a gente lá de cima me descubra aqui e me grite: “Suba, queridi-