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LEWIS CARROLL

Alice não gostou que êle lhe fizesse tal observação. “É horrível como estas criaturas se implicam com tudo! Acabam pondo-me maluca.”

Parece que o criado achou boa a oportunidade para voltar à sua idéia do começo, e disse: — Ficaria sentado aqui durante dias e dias.

— Mas, camelo, que devo fazer para entrar? berrou novamente Alice, furiosa.

— Faça o que quiser, foi a resposta do criado, que se pôs a assobiar muito fresco da vida.

“Oh, é inútil falar a êste imbecil! Trata-se de um perfeito idiota” — e abrindo ela mesma a porta, entrou.

Dava a porta para uma grande cozinha fumarenta. Estava a Duquesa sentada num mocho de três pernas, tendo uma criança ao colo. A cozinheira mexia no fogão uma grande panela de sopa.

— Há de haver muita pimenta naquela sopa, disse Alice espirrando três vêzes seguidas. Irra!

E havia mesmo. Na sopa e no ar. A própria Duquesa espirrava de vez em quando; e a criança que tinha ao colo alternava chôro com espirros. Só não espirravam a cozinheira e o gatão amarelo que a um canto fazia caretas.

— Pode ter a bondade de me dizer, Senhora Duquesa, por que motivo o seu gato faz caretas? perguntou Alice com alguma timidez, pois não estava certa de ter direito de falar em primeiro lugar diante de nobre dama.

— Porque é o Gato Careteiro. Essa é a razão. Porcalhona! foi a resposta da Duquesa.