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LEWIS CARROLL

“Quem sabe se não foram grunhidos e sim soluços?” pensou a menina, examinando os olhos da criança para ver se estavam molhados de lágrimas.

Não estavam. Não havia chorado. Não fôra soluço, portanto, e sim grunhido dos bons. Alice fêz uma carranca e disse-lhe: — Se você vai transformar-se num porquinho, então não conte mais comigo. Veja lá!

A pobre criatura soluçou novamente (ou grunhiu, era impossível distinguir) e houve uma pequena pausa. Alice pôs-se a refletir no que faria dela ao chegar em casa. Enquanto isso a criança grunhiu de novo, tão bem gunhido que não houve mais dúvida. Era mesmo um porquinho; e, como era um porquinho, não havia razão para ser levado ao colo. Alice largou-o no chão.

Assim que se viu livre, a “criança” pôs-se a correr na direção do bosque. Alice suspirou. “Se tivesse crescido gente, seria uma horrível futura pessoa; mas para porquinho está muito bem e até bonitinho”, disse consigo. E começou a pensar em outras crianças que conhecia, as quais ficariam muito bem se igualmente pudessem ser viradas em porquinhos. “Se a gente soubesse como transformá-las...” Ia pensando isso quando deu com o gato da Duquesa sentado num tronco, a poucos passos de distância.

O gato fêz-lhe uma careta, mas de bom humor. Mesmo assim Alice achou prudente tratá-lo com respeito, porque era gato de unhas muito compridas.

— Gatinho Careteiro! disse ela com timidez, não sabendo se o gato gostava que o chamassem assim. Vendo que não se zangava, aventurou-se a concluir a frase: