Página:Alice no País do Espelho (Trad. Lobato, 2ª edição).pdf/14

Wikisource, a biblioteca livre
12
ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

O gatinho prêto havia passado a manhã na sala, sôlto, brincando, e ainda lá estava aos pinotes, enquanto Alice, meio adormecida em sua poltrona, falava sòzinha, com os olhos semi-abertos fixos no tapête onde jazia um novêlo de lã quase todo desenrolado.

— Olá, seu maroto! murmurou ela agarrando o gatinho pelo pescoço e beijando-o para mostrar a sua contrariedade. Depois, voltando-se para Diná, disse: — Olhe, é preciso dar melhor educação aos seus filhos, ouviu? Ainda está em tempo...

Alice tomou do chão o novêlo de lã, que pôs no colo, ao lado do gatinho prêto. Ia enrolá-lo de novo, trabalho que não rendia, porque Alice não parava de falar consigo própria e distrair-se, achando graça na atenção com que o gatinho acompanhava aquêle serviço. Às vêzes procurando ajudá-la êle a atrasava ainda mais.

— Sabe que dia é amanhã? perguntou-lhe a menina. Não sabe! Nunca sabe nada, êste bobinho. Pois teria sabido, se tivesse estado comigo à janela. Teria visto as crianças amontoarem na rua lenha para uma fogueira o que quer dizer que estamos em vésperas de São João. Teremos uma bela fogueira amanhã, vai ver.

Enquanto falava ia enrolando a lã em redor do pescoço do gatinho, que de súbito se debateu e fêz de novo cair o novêlo.

Sem erguer-se da poltrona Alice começou a ralhar com o maroto.

— Eu devia ficar zangada, sabe? Você é o tipo do atrapalhador de serviço. Que faria se eu abrisse a janela