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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

Você puxou o gatinho branco pelo rabo quando êle estava a beber o seu pires de leite. Quê? Estava com sêde? Êle também estava — e havia chegado primeiro. Agora, a terceira má ação: desenrolar o meu novêlo de lã. Três culpas, Kitty, e ainda não foi punido por nenhuma! Estou juntando os castigos para quarta-feira.

Depois, pensando nas suas próprias reinações, continuou:

— Suponha-se que êles juntem os meus castigos. Que fariam no fim do ano? Com certeza me mandariam para a cadeia. Ou — deixe-me ver — suponha-se que cada castigo consista em me deixarem sem jantar. Então, no dia do castigo somado, eu teria de ficar sem cinqüenta jantares, pelo menos...

E para o gatinho:

— Está ouvindo o bater da neve na vidraça, Kitty? Gosto dêsse barulhinho. Parece que a neve está beijando os vidros do outro lado, não? Será que a neve beija assim as árvores e os campos porque os ama? Depois ela os recobre duma camada branquinha, talvez dizendo: “Durmam, queridos, durmam bem até que o verão retorne.” E quando tudo renasce de novo ao calor do verão, Kitty, as árvores e os campos se vestem de verde e dançam — dançam tão lindo quando o vento sopra!... Oh, eu quero que seja assim! concluiu Alice deixando cair o novêlo para bater palmas de alegria. Quero que as árvores realmente comecem a dormir no outono quando as fôlhas entram a amarelar!...

Depois:

— Kitty, você sabe jogar xadrez? Não se ria. Estou falando sério. Pergunto porque quando eu estava a