Página:Alice no País do Espelho (Trad. Lobato, 2ª edição).pdf/18

Wikisource, a biblioteca livre
16
ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

— Escute. Vou contar as minhas idéias a respeito da Casa do Espelho. Antes de mais nada, porém, note que a sala que se vê no espelho é esta mesma sala, mas ao contrário. Posso ver tudo da sala, menos o que está atrás da chaminé. Oh, eu queria tanto ver isso!... Queria saber se lá atrás há fogo durante o inverno. A gente nunca sabe se há fogo senão quando aparece fumaça — e então a Casa do Espelho aparece cheia de fumaça. Mas isso pode ser falso. Pode parecer que há fogo sem haver fogo. E os livros da Casa do Espelho? São iguais aos livros comuns mas com as letras ao contrário. Já fiz a experiência. Quereria você, Kitty, viver na Casa do Espelho? Não sei se encontraria pires de leite lá. Talvez leite de espelho, que é leite ao contrário, não sirva para beber. Mas, oh, Kitty, deve ser lindo viver na Casa do Espelho! Vamos experimentar. Faz de conta que já conseguimos penetrar lá dentro. Ande comigo.

Alice trepou à chaminé, varou o vidro do espelho e viu-se na casa dêle. A primeira coisa que fêz foi olhar se havia fogo na chaminé, do outro lado — e ficou satisfeita de ver que havia. “Bravos! Assim ficarei aqui tão quentinha como na outra sala”, pensou Alice, “ou ainda mais quente, porque não haverá ninguém para me impedir de me aproximar demais do fogo.”

E então Alice começou a observar todas as coisas e notou que o que era igual ao que havia na sala comum não tinha interêsse para ela, visto ser igual, mas que o resto era bem diferente. As pinturas das paredes, perto do fogo, por exemplo, pareciam vivas. O relógio da chaminé tinha o aspecto dum velhinho a lhe fazer caretas.