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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

— Que vulcão? perguntou o Rei, olhando ansioso para o lado do fogo como se só dali pudesse aparecer um vulcão.

— O vulcão que me arrojou aqui! gritou a Rainha sempre aflita. Suba, mas pelo caminho natural. Evite ser trazido pelo vulcão.

Alice pôs-se a olhar para o Rei. O coitado subia lentamente, com grande esfôrço.

— Assim levará horas para chegar, disse-lhe ela. Quer que o ajude?

O Rei nada respondeu. Estava provado que não a ouvia, nem a via. Em vista disso Alice o tomou entre os dedos e o ergueu até ao tabuleiro, mas lentamente e não de golpe, como fizera com a Rainha, de modo que êle pudesse ir-se acostumando com as diferenças de altitude. E antes de pô-lo no tabuleiro achou conveniente espaná-lo da cinza que lhe recobria o corpo.

Ninguém pode fazer idéia da cara do Rei ao ver-se suspenso no ar por invisível mão e, além disso, espanado. Seus olhos arregalaram-se e sua bôca abriu-se tôda.

— Oh, nada de cara tão feia! exclamou a menina, esquecida de que o Rei era surdo. Você me faz rir tanto que acabará caindo no chão. Meus dedos já estão perdendo a força... E feche essa bocarra, para não engolir cinza.

Assim dizendo, Alice acabou de espaná-lo e o colocou no tabuleiro. Ao ser largado lá o Rei caiu de costas. Vendo-o imóvel e como sem sentidos, Alice, muito aflita, correu em busca de água para lhe borrifar o rosto. Não havia água. Alice, porém, passou mão num tinteiro e