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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

— Vocês não têm mêdo de serem plantas aqui, sem ninguém para os defender?

— Temos aquela árvore acolá, que toma conta de nós, explicou a Rosa.

— E que pode fazer uma árvore em caso de perigo?

— É um pé de Unha-de-Gato. Arranha, respondeu a Rosa.

— E faz miau, miau, disse uma margaridinha. Não sabia disso?

— Ouviu-se em seguida um côro de miaus. Tôdas as margaridinhas do canteiro começaram a imitar o mio do gato, enchendo o ar com as suas vozinhas finas.

— Silêncio! gritou o Lírio furioso, balançando-se em sua haste com raiva. Estas bôbas sabem que não posso alcançá-las, por isso abusam! berrou êle danado.

— Não faça caso, disse a menina em tom de acomodação. E voltando-se para as margaridinhas barulhentas lhes murmurou ao ouvido: — Se vocês não calam a bôca, colho-as tôdas já!

Fêz-se o silêncio num instante e diversas margaridinhas vermelhas ficaram brancas de mêdo.

— As margaridinhas são umas sirigaitas, murmurou o Lírio inda zangado. Quando alguém fala elas falam também, tôdas a um tempo.

— Estou mas é espantada de ver como vocês falam corretamente! disse a menina. Estive em muitos jardins sem que jamais visse nenhuma flor falante. Nem sabia que semelhante coisa fôsse possível. Por que isso? Por que só as flôres daqui falam?

— Ponha a mão na terra do canteiro que saberá, respondeu o Lírio.