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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

“Isto por aqui deve ser a floresta onde as coisas não têm nome”, refletiu a menina. E se é assim, muito queria saber o que vai acontecer com o meu nome. De nenhum modo quero perdê-lo. Haviam lá em casa de dar-me outro, com certeza mais feio. E que engraçado seria procurar-se a criatura que tivesse achado o meu nome perdido! Anúncios no jornal, como fazem para os cachorrinhos que somem. “... atende ao nome de Joli e traz uma coleira de prata...”

Estava ainda Alice pensando nestas hipóteses quando penetrou na floresta fria e escura. “Bom”, pensou ela, “antes assim, pois poderei refrescar-me da corrida que dei. Poderei sentar-me debaixo destas... destas...”, e Alice ficou surpreendida de já não encontrar em sua memória a palavra “árvores”. E repetiu mentalmente a frase para ver se a palavra perdida aparecia “Sentar-me debaixo destas... destas... Ora! Todo mundo sabe o nome destas...” e bateu no tronco duma árvore para indicar o que era.

Por uns minutos ficou em silêncio, pensando. Depois murmurou para si mesma: — Então é verdade que nada aqui tem nome! E eu? Quem sou eu? Já não consigo lembrar-me. Fêz um grande esforço de memória e disse: — L, sei que o meu nome começava por L, mas é só.

Nisto um veadinho surgiu, que olhou para a menina com os seus grandes olhos ariscos, embora não parecesse assustado. — Vem cá! Vem cá! chamou Alice, espichando os braços para o animalzinho, que recuou uns passos, continuando a olhá-la com os seus grandes olhos ariscos.