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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

Alice confessou mais tarde que jamais tivera tanto trabalho na vida como ajeitar, alfinetar, pregar, amarrar tôda aquela trapalhada no corpo dos dois heróis. Tinha de atender às mil recomendações dêles, sobretudo em matéria de defesa do pescoço, pois ambos temiam verem-se de cabeça cortada. — Você sabe, disse Dee em certo momento, que uma das mais sérias coisas que possa acontecer num duelo é cabeça cortada.

Alice riu-se alto, embora disfarçasse o riso numa tossida para não ofender o grande herói.

— Estou muito pálido? perguntou Dum quando chegou a hora de colocar o elmo na cabeça (elmo que não passava duma panela.)

— Sim, um pouco, respondeu Alice.

— Sou habitualmente corajoso. Se fiquei um tanto pálido agora é que estou com uma dor de dentes danada...

— E eu também estou pálido, ajuntou Dee, que ainda estava mais medroso do que Dum, por causa duma terrível dor de cabeça que me deu...

— Se assim é, por que não deixam o duelo para melhor tempo?

— Impossível. Temos de lutar um bocadinho agora, respondeu Dum. Que horas são?

Dee consultou o relógio e achou que eram quatro e meia.

— Lutaremos, então, até às seis. Depois iremos jantar, se ainda tivermos as cabeças no pescoço.

— Muito bem! exclamou Dee com tristeza. Lutaremos, e ela poderá assistir. Mas que não fique muito perto. Costumo desancar tudo quanto fica perto de mim.