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VIII


A tarde alongava-se n’um crepusculo aguarellado em leves tintas doiradas, com longes de porcelana japoneza e recortes miudinhos nos primeiros planos.

No terraço, illuminado pela luz do poente sem agonias, as rosas-chá abriam-se aromaticas e dôces.

A viscondessa, reclinada n’uma cadeira da Ilha com baldaquinos bordados, fitava os olhos na Vesper, — que era um ponto mais brilhante no oiro em que o sol se fundia — n’um alheamento, n’um abandono de si mesma, que a puzera triste, d’essa inexplicavel tristeza que infiltram na alma as tardes assim bellas e silenciosas.

O vestido leve de seda escura, com enfeites de renda preta, contrastava fortemente com a pallidez marfinea do rosto. O cabello castanho simplesmente penteado descobria-lhe a fronte alta de intelligencia e juizo claro. A bocca, d’um córte rasgado, trazia-a franzida n’um sorriso de paciente melancolia, que ás vezes se azedava n’um leve sarcasmo de quem muito conhece,