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d’uma simples doença para que estava predisposta... Ha n’isso uma especie de vaidade, creia. Na minha vida de medico é frequente deparar com estes exemplares: pessoas que querem ter doenças extraordinarias, que dizem soffrer e sentir coisas espantosas, que querem por força que se lhes diga um nome scientifico para baptizarem a mais ligeira dôr de cabeça, e que ficam radiantes quando se lhes diz que é um caso desconhecido ou raro... Poucas são as pessoas que não sentem como que uma certa vaidade dolorosa, mas que é consoladora ao mesmo tempo, em constatar que alguem da sua amizade morreu de uma doença com um terrivel nome na medicina.

— «Pois sim, será, mas o doutor não desconfia de nada?!...

— «Eu nada desconfiei e nada vi que authorisasse tal supposição.

— «O Vilhegas parece-me um ambicioso sem escrupulos, talvez mau...

— «Não, mais ambicioso do que outra coisa. Agora é todo M.ᵉˡˡᵉ Maximiano, dizem.

— «Mas essa não é rica, o pae deve tres vezes mais do que tem. Apezar do estadão que apresenta, creio que está mettido em tanta negociata que impossivel será sahir-se de todas.

— «Homens como elle nunca vão ao fundo, boiam sempre nas aguas turvas como se fôssem o seu elemento. Elle fará subir o genro, puxando o a si...

— «Pelas orelhas, bem póde...

— «Tenho notado que os Maximianos este anno veem cá muito menos.