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— «Faze troça, faze... Mas, emfim, com essa vá, comprehendia que sacrificasses a tua liberdade, agora com a Hortensia que não tem vintem!...

— «Vocês, os poetas, não sabem nada da vida. Pois uma protecção como a do Maximiano Carneiro não vale uma grossa fortuna? Deixa me casar com ella e tu verás como me hasde ver deputado, chefe de repartição, director de companhias, ministro, sei lá!... Tudo.

— «Tu? mas como?

— «Pois o Maximiano, que tem empregado a familia inteira, que tem criado logares para simples parentes da mulher, para amigos, para influentes do bairro, pode-se dizer; o Maximiano, que custa ao país com a sua parentella e afilhados mais de um conto de réis por dia, não ha de pôr toda a sua influencia e esperteza em campo para fazer subir o marido da filha?...

— «Talvez tenhas razão.

— «Já se vê que tenho.

— «Bom, isso é que eu desejo. Mas tu gostas da pequena?

— «O bastante para me divorciar sem desgosto, se me fôr preciso.

— «Tem graça! És impagavel!... — E ambos desataram a rir, n’um gosto franco de rapazes que se divertem com futilidades.

— «Agora outra coisa, — disse d’ahi a momentos, quando já acalmado o riso, o Telles: — o que me dizes áquella inglezita que veio com a Viscondessa, será rica?

— «Creio que não. A Hortensia disse me que é filha d’um trampolineiro que, depois de ter roubado meia Lisboa, fugiu para o Brazil. Ella