Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/226

Wikisource, a biblioteca livre

para quem tinha mais perto e calhou ser o Telles — leia o senhor o que manda por um lacaio. Só visto!...

O discurso ameaçava não deixar occasião para se ler a carta, porque a conselheira, vendo-se benevolamente escutada, não tinha mão nos improperios. Interrompeu-a a baroneza benevolamente:

— «Deixe que o sr. Telles leia a carta, aliás não percebemos nada.

— «Pois que leia, para verem quem é aquella bisca!... Só a chicote!...

O Telles pegou na carta traçada com larga calligraphia inglesa propria de sportman e de pessôas de poucos dizeres, e leu:

— «Minha ex.ᵐᵃ e querida senhora. Venho humildemente a seus pés depôr a minha homenagem e pedir desculpa pela falta que hoje darei na sua quinta-feira. Não poço. — O sr. Visconde escreveu posso com ç, não sei se quer dizer o mesmo, commentou o Telles com litteratica ironia.

— «Deixe lá os erros e diga para deante — apressou a baroneza.

— «Não póde deixar a partida de mr. Burns, a quem acompanhará n’uma caçada á serra ás tres da manhã — resumiu o Vilhegas, que acabou de ler por cima do hombro do amigo.

— «Ora então, coitado do rapaz, tambem tem alguma razão — desculpou a baroneza.

A conselheira ia sair-se talvez com nova ladainha de injurias e improperios, se o Jorge Cabreira a não chamasse da porta, n’um gesto desesperado. Estava pallido; o bigode, que enrolava furiosamente