Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/257

Wikisource, a biblioteca livre

— «Oh Sr. Padre Mathias, olhe que parece que o voltaram de pernas para o ar. Parece até impossivel que um homem como você era se mudasse assim! Isto até me faz mal, creia. Tomára que o Vilhegas me arranjasse um logar lá por Lisbôa, porque aqui abafa-se. Hãode tornar esta terra inhabitavel. Eu, que me preso de ser liberal e tenho confiança que a sciencia e a instrucção hãode transformar o mundo, sinto-me manietado e impotente, com os nervos tangidos n’um sobresalto deante do reaccionarismo triumphante.

— «E você cuida que lá por Lisbôa não é o mesmo?... Está enganado, pergunte ao Vilhegas quem é que lá manda agora.

— «Mas a par d’isso ha muito quem se liberte, ha maneira mesmo de se reagir sem todavia ser um revoltado.

— «Pois sim, faça você versos, que eu cá trato da vida comforme calha. E deixa-me ir á prosa, que é como quem diz á vida, que a morte é certa. Preciso de encontrar sem falta aquelle velho tonto do abbade que sae de madrugada e só recolhe á noite. Hade ganhar muito em se metter com a ralé, deixe, assim como o Ramalho e a tal inglesa e o marido que querem fazer d’estes brutos gente livre!...

— «E porque não?

— «Você é nephelibata, oh Telles! Eu cá não o entendo. Pois se approva aquellas lindas ideias, — que lhes hãode dar na cabeça, verão! — vá com elles.

— «Olhe, sr. padre Mathias, a dizer a verdade, a minha sympathia intellectual têm-na toda.