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para ir com a minha amiga eu, crê, ter-lhe-hia dito:

— «Vae! Que me importa isso? Com essa ou com outra é-me indifferente, mas despede-te de minha mãe, da pobre senhora tão velhinha e doente que morrerá d’um primeiro desgosto. Tem dó d’ella — ao menos tem esse sentimento bom — ajuda-me na mentira santa em que a tenho deixado viver socegada.»

Oh! se elle tivesse feito isto, de joelhos lhe beijaria as mãos, agradecida o cobriria de bençãos. Mas não, nenhuma delicadeza, nenhuma bondade, n’aquella alma egoista.

Avalia o que eu soffri com a scena que hoje se passou!

Á hora do almoço o Duarte não appareceu, mas isso era tão vulgar que eu nem perguntei por elle ao criado respondendo á minha mãe: «Teve que fazer e sahiu mais cedo naturalmente»... Mas o Bernardo adiantando-se: — «Se V. Ex.ᵃ me dá licença direi que o Sr. Visconde mandou o José arranjar as malas e encarregou-me de dizer a V.ᵃˢ Ex.ᵃˢ que partia para o estrangeiro.»

Imaginas bem como eu fiquei pelo sobresalto em que vi a minha mãe! Ante o meu olhar de censura o pobre Bernardo, coitado, daria tudo por não ter dito tal coisa, mas era muito tarde! Tentei ainda convencê-la de que sabia d’aquella viagem, que tinha sido combinada commigo, mas quê?! Os jornaes deram logo a noticia tão transparentemente velada que tudo foi inutil. Coitadinha! Se a ouvisses dizer-me:

— «Eras então infeliz e nada dizias, filhinha?!...